*Entrevista concedida ao Tudo Rádio
A música pop conta com várias vertentes e ramificações dentro da indústria e também da formatação do rádio. E hoje é possível perceber um crescimento considerável na chamada “música latina” nas plataformas de streaming e nas rádios de diferentes países, seja na América Latina, como também na Europa e países como Estados Unidos e Canadá. Artistas brasileiros fazem parcerias com nomes hispânicos.
Mas e aí? Há uma tendência de crescimento desse gênero dentro do guarda-chuva do Pop Nacional? E o que teremos de tendência no rádio e na indústria para o pós-pandemia?
Para ter alguma noção sobre como caminha a música brasileira, conversamos com Paulo Junqueiro, presidente da gravadora Sony Music Brasil.
Acompanhe:
Caro Paulo, obrigado por aceitar bater esse papo com os leitores do tudoradio.com.
Um pouco antes da pandemia, já havia uma percepção de um maior interesse do mercado de rádio brasileiro e mundial pelo gênero latino urbano. Você acredita que é uma resposta ao alto consumo do estilo em plataformas digitais, especialmente no YouTube, onde os videos sensuais podem ter um maior apelo?
Não me parece que o sucesso do reggaeton e da música urbana latina em geral esteja ligada diretamente à sensualidade dos vídeos. Acho que é um fenômeno que aconteceu como acontecem fenômenos de alguns gêneros ao longo da história da música e agora nos últimos anos aconteceu esse fenômeno da música latino urbana muito focada em reggaeton. É óbvio que os vídeos ajudam, até porque hoje tem apelo audiovisual. Então mas acho que as redes são mais uma ajuda e um complemento da música do que o motivo principal.
E é possível considerar que foi tardia a entrada do gênero no Brasil? Ainda há resistência do consumidor local? A que se deve isso na sua opinião?
Acho que a entrada no Brasil foi tardia e continua sendo porque ainda não entrou de fato. E acho que isso é um pouco a história da música cantada em português e a música cantada em espanhol sempre andaram de costas viradas uma para outra e ainda não penetrou no Brasil. Ainda é uma realidade que esperemos que venha a acontecer, mas que nesse momento ainda é bastante reduzida.
A música latina urbana é um fenômeno nas plataformas de streaming mundialmente e sempre teve um espaço consolidado no rádio dos Estados Unidos e também nos principais mercados da Europa. Você acredita que podemos ter isso também no mercado brasileiro?
Nesse momento não consigo dizer se vai acontecer ou não vai acontecer. Mas continuamos trabalhando para que isso aconteça e para que o mercado brasileiro, a exemplo de outros mercados, não apenas dos Estados Unidos, mas na Europa como a Itália e a Alemanha França, são mercados que acolheram a música urbana latina e que hoje em dia é uma realidade.
Forte no streaming, assim como plataformas como a Latina Brasil (que é rádio e plataforma digital ao mesmo tempo), você acredita que o rádio pode contribuir ainda mais para o avanço desse gênero no Brasil, levando para o grande público? Existem hoje programas dedicados à música latina em diversas emissoras pelo Brasil, inclusive o DALE da Latina Brasil que está em mais de 40 emissoras de FM. Você entende que o alcance das emissoras de FM pode dar suporte ao trabalho que artistas e gravadoras tem feito para aumentar o impacto do Pop Latino em nosso país?
Acredito sinceramente que se o rádio apoiar e abraçar a música urbana latina vai acontecer, porque a rádio ainda é um grande meio e chega no país inteiro como outros outros caminhos chegam. Então acho que a rádio e a TV ainda continuam sendo no Brasil muito muitíssimo importante para a divulgação da música.
Pensando em afinidade com as programações de rádio, esse formato latino urbano se encaixaria de forma natural com quais outros gêneros musicais já executados fortemente e que fazem sucesso no Brasil?
Eu acho que a música urbana é um caldeirão bastante grande ainda que seja específico. Então eu acho que quem gosta de funk no Brasil, quem gosta de Trap, pode sim gostar da música urbana latina. Existem muitas semelhanças entre as músicas urbanas no mundo, da mesma maneira que no trap americano ou no hip hop ou no R&B, então eu acho que a galera da música urbana, a galera jovem que gosta de música urbana no Brasil, tem toda a condição de gostar de música urbana latina.
Você acha que trabalhar a música latina no Brasil também é uma forma de trazer um público mais jovem ao universo musical e também ao rádio? E também de integrar mais o Brasil musicalmente aos demais países do continente, a despeito da língua?
Acho que sim. Acho que em primeiro lugar divulgar a música latina no Brasil vai trazer público jovem, porque é um público consumidor natural desse tipo de música. A integração seria perfeita tal como falamos lá atrás. Acho que a música cantada em português e a música cantada em espanhol se encontra e acho que os brasileiros já e os latino americanos que falam espanhol historicamente sempre estiveram um pouco virados de costas uns para os outros.Ee a integração seria maravilhosa e o que é melhor do que a cultura para fazer essa integração.
E é inevitável perguntar sobre os efeitos da pandemia na indústria musical, que acabou acelerando algumas tendências em diferentes áreas. Na sua visão, no que mais atrapalhou e o que gerou de ativo positivo para a indústria nesse período 2020-2021?
Dentro do universo da música, a música gravada e o streaming foi o que menos sofreu na pandemia. Então tem muita gente sofrendo com eventos com shows com atividade ao vivo que realmente está impraticável e a música gravada vendida não sofreu tanto assim, porque as pessoas estão mais atentas, mais em casa com menos solicitações acerca de tendências. Mas não me parece que a pandemia tenha tido alguma influência na tendência nos gostos musicais. Teve influência no consumo pela maneira que eu já falei.
Por fim, como você enxerga a presença e a relevância da música no rádio nos dias de hoje e quais são as apostas que você faria de gêneros em alta em um futuro próximo?
Sim. Também como já falei, acho que o rádio continua sendo um veículo importantíssimo para a divulgação da música pela pela sua amplitude e por conseguir chegar em lugares onde talvez só exista rádio nem TV. Então acho que continua sendo fundamental e muito importante.
As apostas de gêneros, essa é a pergunta do milhão… se tivesse essa bola de cristal, seria maravilhoso. Eu acho que eu posso adiantar nesse momento, que acredito que a pisadinha e o forró, esse forró eletrônico, vieram para ficar durante muito tempo, mas nunca ninguém sabe quanto tempo dura, pode durar décadas.
Acho que o trap é também um gênero que está tendo muita muita procura, muita aceitação e muita divulgação.
Acredito que precisamos de mais artistas de trap para que seja uma onda e não apenas alguns artistas fazendo ou fazendo música. E acho que é isso claro que tudo vai continuar como era com relação aos outros gêneros, porque o sertanejo continua sendo gigante, o samba e pagode continuam sendo muito grandes também, o Pop está aí com grandes artistas e e muita procura também. Então acho que de novas tendências nesse momento acho que é a continuação da pisadinha e o trap.
*Texto originalmente publicado no tudoradio.com
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